Revista Brasileira de História n° 75. O protagonismo indígena na História


Editorial

Antonio Luigi Negro

Em 1923, livro celebrativo da independência do Brasil traz aquarela de Jurandir Pais Leme. Acompanhados de sugestiva legenda - “últimos representantes de uma raça no estado da Bahia” -, estão três índios em retrato (Coelho, 1923). Inserto entre as páginas 14 e 15, tudo aí é expressivo. Na dita terra mãe do Brasil - a Bahia -, indígenas são, nessa precisa hora, uma raça. (E, em sendo uma raça, são algo à parte: não são assim fruto de feliz enlace, parteiro de povo mestiço, comemorativo de suas virtudes em cívicas cerimônias verde-amarelas.) Não possuem lugar demarcado (estão entre as páginas 14 e 15!) e, todos vestidos, dos pés à cabeça, figuram no início de vultuosa obra nacional da qual irão fatalmente desaparecer, já que seus representantes são os derradeiros.

Com orgulho e oportunamente, este número 75 da Revista Brasileira de História caminha na contramão daqueles que querem aniquilar os índios do Brasil e apoderar-se de suas terras como gananciosos senhores brancos proprietários (a reboque de palavras enganosas, balas e bois). Com toda a clareza, o Dossiê “O protagonismo indígena na História” - responsável por nove artigos (ver Apresentação de Maria Leônia Chaves de Resende) - exprime que os povos nativos existem, resistem e têm futuro, sendo sujeitos de diferença e de autodemarcação de seus territórios. Aqui, pesquisa histórica de fina qualidade o comprova, evidenciando seu relevo e presença na sociedade.