Dispositivo mede alterações físico-químicas causadas pelas
condições ambientais de museus em materiais que compõem bens do patrimônio
cultural ("Independência ou Morte", óleo sobre tela de
Pedro Américo, 1888, do acervo do Museu Paulista)
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – As condições climáticas e ambientais
de museus e outros espaços fechados dedicados à exposição de arte podem causar
impactos na conservação das obras que integram seus acervos.
Com o objetivo de avaliar possíveis danos que as
características ambientais desses espaços podem provocar nos bens do patrimônio
cultural que abrigam, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP)
desenvolveram um sensor que indica o grau de degradação sofrida por materiais
que compõem obras de arte em diferentes ambientes.
O dispositivo, que já passou por várias etapas de
aprimoramento, é resultado de um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP por meio do
Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
Durante o estudo, pesquisadores da Escola de Artes, Ciências
e Humanidades (EACH) da USP, campus Leste, pretendiam desenvolver uma
ferramenta que possibilitasse medir simultaneamente a temperatura, umidade,
iluminação e os níveis de poluição interna apresentados por museus situados em
áreas urbanas e o grau de deterioração sofrido ao longo do tempo por resinas orgânicas
usadas em obras de arte. Para isso, eles se associaram a um grupo de pesquisa
do Instituto de Química da USP, liderado pela professora Dalva Lúcia Araújo de
Faria.
Reunindo conhecimentos de química analítica com habilidades
em eletrônica e microprocessamento de um pós-doutorando que integrou o grupo –
Carlos Antonio Neves –, os pesquisadores conseguiram criar um aparelho
miniaturizado que funciona automaticamente e mede as alterações físico-químicas
causadas pelas condições ambientais de museus em alguns materiais orgânicos que
compõem obras de arte.
“O equipamento fornece um conjunto de efeitos provocados
pela temperatura, umidade, iluminação e presença de poluentes em um ambiente
sobre materiais orgânicos que compõem algumas obras de arte”, disse Andrea
Cavicchioli, professor da USP e coordenador do projeto àAgência FAPESP.
O sensor é baseado em uma microbalança de quartzo,
constituída por pequenos cristais do mineral com aproximadamente 1 centímetro
de diâmetro que vibram a frequências muito elevadas, de 10 MHz.
Para analisar as possíveis alterações físico-químicas
sofridas por um determinado material em um ambiente, é depositada uma fina
camada dele sobre os cristais de quartzo e colocado o aparelho no ambiente onde
se pretende monitorar.
Cristais de quartzo captam as transformações do material no
ambiente, como variações de frequência, que são registradas e gravadas em uma
memória incorporada ao sistema eletrônico do aparelho.
“Quanto mais rapidamente variar a frequência, mais
rapidamente o material estará se degradando, indicando que o ambiente é muito
agressivo”, explicou Cavicchioli.
Os pesquisadores utilizaram um tipo de verniz muito usado em
obras de arte para testar o aparelho em alguns ambientes de dois museus em São
Paulo: o Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP) – mais conhecido
como Museu do Ipiranga – e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, em parceria com
as equipes das conservadoras Teresa Cristina Toledo de Paula e Valéria
Mendonça.
Após deixar o aparelho contendo a amostra do verniz por um
determinado período de tempo nos dois lugares, o grupo constatou que, em
comparação com a Pinacoteca, o Museu Paulista apresenta condições menos
favoráveis para conservação de materiais associados às pinturas.
A diferença, segundo Cavicchioli, se deve à dificuldade de o
Museu Paulista implementar condições mais adequadas para a conservação dos bens
culturais que abriga, uma vez que a edificação é tombada.
“O Museu Paulista, apesar de ter plena consciência da
necessidade de controle ambiental para a proteção dos bens culturais, ainda tem
ambientes pouco adaptados devido à própria edificação ser um objeto cultural.
Já a Pinacoteca é um ambiente mais transformado e passou por um processo de
readequação que possibilitou a implementação de algumas medidas mitigatórias,
como a instalação de aparelhos de ar condicionado, filtros de ar para que
poluentes externos não penetrem no interior do museu e dispositivos para
controlar a luminosidade”, comparou.
Atualmente o Museu Paulista também está passando por um processo de adaptação de seus ambientes, apoiado pela
FAPESP por meio do Programa Infra-Estrutura – Museus, com o objetivo de
melhorar as condições de conservação das obras que possui. De acordo com
Cavicchioli, ao fim desse processo será possível fazer nova avaliação
utilizando o sensor e constatar se a reforma possibilitou a melhora das
condições microambientais da instituição.