MEMÓRIAS DE UMA MERCADORA AFRICANA


Aquarela de Benguela feita na segunda metade do século 19.Arquivo Histórico Ultramarino



Mariana P. Candido
Departamento de História

Universidade de Notre Dame (EUA)

Dona Florinda Joanes Gaspar transitava entre os dois lados do Atlântico traficando cativos e registrando e vendendo terrenos em Benguela, na África, e no Rio de Janeiro.

A melhor parte do meu trabalho é passar horas lendo registros históricos na tentativa de reconstruir a história de africanas que residiam em Benguela, Angola, no litoral da África Ocidental, nos séculos 18 e 19. Surpreendentemente, há muita informação sobre as mulheres livres e de elite; no entanto, também há dados disponíveis nos arquivos angolanos e portugueses sobre libertas e escravizadas – dados que, muitas vezes, passam despercebidos entre mapas populacionais, registros eclesiásticos e correspondência oficial.

As donas, as mercadoras africanas, mulheres poderosas em seu tempo, têm certa preponderância nessa documentação. Entretanto, reconstruir suas vidas requer visitar arquivos em três países (Angola, Portugal e Brasil) e muita paciência para ler centenas de páginas que relatam guerras e apresentam fauna e flora. Em meio a leituras e viagens, percebi que havia localizado uma mercadora excepcional: Dona Florinda Joanes Gaspar. O ‘encontro’ não foi por acaso, mas fruto de horas, dias e meses de investigação, na qual a experiência de africanos é priorizada na pesquisa.
ACESSE: Ciência Hoje