DA BAHIA A PERNAMBUCO DE JANGADA


Diz José de Barros Vieira morador na Subauma Distrito da Torre, onde por ser pobre vive de plantar mandiocas e fabricar farinhas, que em uma sua jangada vem dispor no Celeiro Público desta Ciadade. Que em um dos dias primeiros do mês de maio deste ano de 1806, achando-se o suplicante no seu porto, e nos trabalhos de conduzir para esta Cidade as suas farinhas, foi obrigado à ordem de Vossa Excelência e intimado pelo Sargento do dito Distrito, para na referida jangada conduzir a Joze Bento, Alferes do Regimento do mesmo Distrito, para a Cidade de Pernambuco com carta de Vossa Excelência, dirigida ao Excelentíssimo Governador da dita Cidade, e que na volta [desta] viagem seria o suplicante satisfeito; obedeceu o suplicante, e apesar do grande prejuízo de mais de 60$ réis nas farinhas que deixou de conduzir, fez a dita viagem, e na volta, além de sustentar-se a sua custa, arriscou a sua vida, pois que pelo tempo invernoso que sobreveio, andou quase naufragante três dias sem comer, nem beber, até que por mercê do céu veio ao porto com grande trabalho; e como para ser o suplicante pago pela Real Fazenda, tem o dito Sargento enviado carta, competente ao Secretário deste Estado, e não tem sido o suplicante pago do grande desvelo e trabalho que na referida viagem teve em quinze dias que gastou de ida e vinda. Portanto Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor, peça a Vossa Excelência se digne atender a pobreza do suplicante e tudo mais referido, arbitrando e mandando-lhe pagar o seu trabalho.

Pela informação do S. Mor. Junto a este fará Vossa Excelência o que for servido. Quartel da Torre, 6 de outubro de 1806. Antonio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque. Coronel. 
FONTE: Arquivo Público do Estado da Bahia - 
Seção Colonial, Cartas ao Governo - Maço: 208.